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domingo, 27 de novembro de 2011

Ética

Ética

“No tempo da maldade, acho que a gente nem era nascido...”
Chico Buarque

               A base da ética, segundo Hellern é o senso de responsabilidade. Por quem nos sentimos responsáveis? E pelo que nos sentimos responsáveis? Fala-se da responsabilidade individual, isto é, da responsabilidade por nós mesmos, e por tudo que nos rodeia. A responsabilidade coletiva, isto é, o cuidado com o meio ambiente, a distribuição eqüitativa de recursos, a luta contra a fome entre outros, podemos interpretar como solidariedade, quando nos juntamos aos outros, compartilhamos responsabilidade, unindo nosso destino às pessoas que se encontram em dificuldades. A solidariedade é um requisito básico para se viver em sociedade, embora muitas pessoas não a pratiquem, ou só a pratiquem no núcleo familiar, o que demonstra um horizonte ético demasiadamente limitado, construindo a boa morada individual e não uma boa morada para todos.
              Ética entre tantas acepções é abrigo, proteção, espaço onde somente o benfazejo pode entrar, “boa morada”. E o que pode ser uma boa morada? Em minha concepção é um lugar onde todos se respeitam. Não o respeito imposto, sim o respeito intimo, que se encontra no âmago de cada ser habitante deste planeta e que nos leva a conviver harmoniosamente.  Embora, nos dias atuais haja uma grande repercussão do termo “ética”, (encontramos na prateleira de supermercado), creio que a estejam vendendo como um produto de consumo próprio, a bel prazer do consumidor: ética na mídia, ética na escola, ética no futebol, ética na profissão, ética em tudo que seja socialmente aceito. Assim pensamos que agir eticamente seja obter o maior número de vantagens possíveis, quando na verdade agir eticamente seria agir com amor e compaixão e simplesmente respeitar o outro, como desejamos ser respeitado. Na medida que me respeito e sei que sou frágil, tanto quanto meu semelhante, aprendo que não posso ir além dos limites do outro. Essas teorias não são novas, encontramos em Cristo, Nietzsche, John Lennon entre tantos outros.
        Ética deve ser bem mais que o respeito ao próximo. Deve ser entrega à vida sem medo de ser ferido e principalmente sem ferir ninguém. Deixa o id navegar, conhecendo os frágeis limites que nos torna mortais. Perceber que com riquezas não se compra amor, amizade, carinho, assim como o cidadão Kane fez, inventar um mundo particular e manipular todos que estavam a sua volta e obter uma vida vazia. Creio que a ética esteja em ajudar a quem necessita, assim como no belíssimo filme K-PAX , o paciente “louco” ajuda seus amigos encontrar uma sentido para a vida, embora ele próprio estivesse dilacerado, ainda assim, ele cuida de cada um que se encontra ao seu lado e ao final pede para que cuidem dele. Ética de oferecer atenção ao outro, troca-troca de afeição.
           A reflexão sobre ética se faz no choque do filme “Ilhas das flores”, onde seres humanos valem menos que porcos, na injustiça do preso que deseja apenas um banho, na triste solidão de Kane, na extrema solidariedade do Kapaciano, na indignação de Nietzsche contra a falsa moral do cristianismo, no amor ao próximo de Cristo, na busca de um mundo sem fronteiras de Lennon.
          Enquanto não compreendermos que bondade é inerente ao ser humano - ou deveria ser - e que pode ser praticada no dia-a-dia, compraremos ética na prateleira do supermercado. Se não aprendermos que amor e compaixão estão ao nosso alcance, sempre haverá mártires e cerimônias solenes para a entrega do prêmio Nobel da paz. Nunca compreendi porque premiar benevolência, se esta deveria ser uma constante entre seres humanos que pretendem viver em consonância. Quando o homem perceber que acima da ambição, das guerras, da compulsão pelo vil metal, encontra-se a responsabilidade pelo outro, a simplicidade, o amor, o respeito, a compaixão e a bondade, talvez um dia possamos fazer deste planeta realmente uma “boa morada” para todos.

Milka Fonseca

Um comentário:

Abreu disse...

Belíssimo texto Milka.

Será utópico este nosso sonho
Cara amiga
De querer fazer ainda em vida
Um dia se tornar notória
Por humanidade tão corrompida Esta "verdadeira face"
De uma tão simples ética
Embora tão antiga?